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Sicário - os bons da fita não existem

  • João Croca
  • 19 de fev. de 2016
  • 3 min de leitura

A guerra entre os cartéis mexicanos e agências norte-americanas, como o FBI, DEA ou CIA, expõe uma realidade constante nas fronteiras que separam os dois países. Sendo este um tema atual e bastante “quente”, o universo de Hollywood tem vindo a apostar em grandes produções cinematográficas dedicadas à glorificação dos EUA enquanto nação, contando histórias de bravura das forças de segurança face ao combate ao narcotráfico. Sicário pretende retratar o oposto – não há nada de belo nem poético nos bastidores de zonas de conflito.

O argumento foi escrito pelo ator Taylor Sheridan, criador da aclamada série Sons of Anarchy (2008-2014), e realizado pelo canadiano Denis Villeneuve, um cineasta que tem vindo a passar despercebido nos circuitos mais mainstream do cinema.


Sicário possui os requisitos necessários para captar a atenção do grande público; para além de contar com um elenco de estrelas onde nomes como Benicio Del Toro e Josh Brolin marcam presença, falamos de um argumento bem enraizado na natureza de um thriller policial: mistério, dúvidas, intrigas, o duelo assíduo entre o que é certo e o que é errado, a sobrevivência da ética através das ações de uma agente do FBI que não conhece as regras do jogo. Tudo é posto em causa numa missão que pretende estabelecer a ordem e a paz e, neste caso, o fim de assassínios causados pelo tráfico de drogas. Mas no meio deste processo, ninguém se rege pelas regras, o que torna o comportamento das personagens imprevisível, uma caraterística importante num policial, que faz com que o espectador fique constantemente na expetativa do acontecimento, onde todo o tipo de ações podem ser desenroladas numa intensidade frenética.


A personagem central Kate Macer, uma agente do FBI, é protagonizada pela britânica Emily Blunt, uma atriz celebrizada por filmes como O Diabo Veste Prada (2006), Irresistível (2006) e A Jovem Vitória (2009). A prestação de Emily é convincente, dadas as circunstâncias do seu papel: uma mulher que aparenta ser frágil mas que acredita no seu trabalho e que, apesar da discriminação que enfrenta num ambiente normalmente dominado por homens, vê as suas qualidades serem reconhecidas ao embarcar numa missão conjunta com a CIA. A atriz contracena com Benicio Del Toro, que interpreta o papel de um assassino conturbado de um cartel colombiano, que se junta ao conflito principal do filme por motivos pessoais. Duas forças contrapostas na mesma luta, mas com interesses claramente diferentes – uma combinação perfeita para quem é apreciador do fator surpresa no desenrolar da ação.

Esta longa-metragem não é, de todo, uma obra-prima, apesar de estar nomeada para os Óscares da Academia nas categorias de Melhor Fotografia (outro ponto alto do filme, responsável pelo inglês Roger Deakins), Melhor Banda Sonora e Melhor Edição de Som. No entanto, é um filme que enche o olho na medida em que não faltam momentos de adrenalina e de tensão, fazendo lembrar a essência de Este País Não É Para Velhos, dos irmãos Cohen e a tenuidade de True Detective.

Não existem “bons da fita” por estes lados – apenas jogo sujo. Muito sujo. Não conseguimos prever algo de bom no meio de tanta obscuridade porque não nos deixam, somos obrigados a assimilar a ideia de que o mundo não é bonito e que é assim que as coisas devem ser. Um exercício cuja realidade é dura e crua.


 
 
 

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