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Marvel Studios – Filmes que não são para fãs de super-heróis

  • Tiago Almeida
  • 10 de abr. de 2016
  • 6 min de leitura

Com o desenvolvimento tecnológico e a integração de CGI (Compute-Generated Imagery), a possibilidade de efeitos especiais no cinema tornou-se praticamente ilimitada. Isso deu origem à explosão de “filmes de super-heróis”, o que culminou no MCU (Marvel Cinematic Universe): um conjunto de filmes interligados entre si em termos de linha temporal e de história, com pequenos easter eggs espalhados, que apenas verdadeiros conhecedores das personagens e das histórias conseguem identificar imediatamente. No entanto, é questionável que estes filmes sejam direcionados aos verdadeiros conhecedores e fãs dos comics.

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Quantos de nós já ouvimos os vastos elogios que o ator Hugh Jackman recebe pelo papel de Wolverine, na saga X-Men? Após o seu anúncio que o terceiro filme do Wolverine, que sairá em 2017, será o último no qual desempenhará o papel, a sua legião de fãs quase chorou. No entanto, os fãs de super-heróis, aqueles que compram os comics e seguem as séries animadas, respiraram de alívio. Porquê? Não é que o desempenho de Jackman da personagem, dos seus maneirismos e da sua atitude seja má - embora haja uma clara falta da expressão inglesa “bub”, que este repete vezes sem conta, quer nas comics, quer nas séries. Simplesmente o ator não encaixa na personagem: Jackman é um homem australiano com 1,88 m de altura; James Howlett, mais conhecido como Logan, é um homem com pouco mais de metro e meio de altura e de nacionalidade canadiana. Estarei a ser demasiado exigente? É então tempo de referir que Wolverine não pertence aos X-Men originais e que no filme é apresentado como tal. Mais ainda, o seu irmão, Dentes de Sabre, é apresentado como um dos membros originais da Irmandade de Mutantes, sem que o seja. Mas sigamos para outro exemplo.

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O filme “Os Vingadores”, o filme que fez mais dinheiro em bilheteira no mundo inteiro, durante o ano de 2012 (1,520 bilhões de dólares americanos), com um orçamento de 220 milhões de dólares americanos, o que poderia estar mal? TUDO! Sendo esta a primeira aparição cinematográfica do grupo, e visto que se baseia na sua história inicial, era de esperar que apresentasse a formação original deste, certo? Errado. O grupo apresentado consiste em Homem de Ferro, Thor, Hulk, Viúva Negra, Hawkeye e Capitão América. No entanto, o grupo original de Avengers não continha nem Hawkeye, nem Viúva Negra, e, tecnicamente, o Capitão América só se torna membro no quarto volume do comic. Em contrapartida, o Homem-Formiga e sua companheira a Vespa, que pertenciam a esse grupo original, não estavam presentes e foram preciso quase três anos para que existisse um filme sobre estas personagens, - mesmo esse filme não apresenta o Homem-Formiga original (Hank Pym) como contemporâneo dos Avengers, mas sim como um velho ex-herói que passa o seu legado a Scott Lang. Poderão pensar que é um pormenor, mas até aspetos como mudarem a etnia da personagem Nick Fury de alguém caucasiano para um descendente de subsarianos, são ataques à história original, que os verdadeiros fãs de comics levam a peito.

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O comic mais assassinado pelo cinema é o do Homem-Aranha. É engraçado que ambos os primeiros filmes das duas sagas têm, no seu filme inicial, um enorme easter egg,: a presença do bully Eugene “Flash” Thompson que mais tarde se tornará no Agente Venom, após perder as suas duas pernas na guerra do Iraque. Mas que fique bem claro: este é dos poucos aspetos que podemos dizer que um verdadeiro fã do comic aprecia, pois o resto é destruído gradualmente ao longo das sagas. O filme Homem-Aranha, estrelado por Tobey Maguire, foi o primeiro a testar o coração dos fãs de comics, ao apresentar Peter Parker como um rapaz sensível e “totó”, ao invés de alguém gozão – apesar de introvertido –, e ao mudar várias dimensões na sua personagem.

Talvez a mais grave das violações das características das personagens aconteça aqui, na forma como esta lança as suas “teias”. Reparem que coloco teias entre aspas por uma razão: o Homem-Aranha não produz teias. A ideia do filme de que o Peter tem algum tipo de glândula produtora de teias nos pulsos é algo ridícula (não existe justificação para que seja preciso um determinado gesto específico para a ativação da glândula), mais que não seja porque as aranhas não produzem teias nos pulsos… As teias do verdadeiro Peter Parker são um composto de metal, lançadas de um mecanismo ao qual ele chama web shooters, e que apenas um determinado gesto (unir à palma da mão o dedo anelar e o dedo médio) ativa. Nesse mesmo filme, a personagem Mary Jane é apresentada como o primeiro interesse romântico do Peter, no entanto, Mary Jane só assume esse papel após a morte da sua amiga Gwen Stacey, essa sim o primeiro interesse romântico de Peter. Para abreviar referirei apenas: Peter Parker dança na rua no último filme da saga… nada mais precisa ser dito.

A segunda saga de filmes, chamada O Fantástico Homem-Aranha, aproximou bastante as personagens às suas origens, ou melhor, aproximou Peter Parker da história original e integrou a Gwen Stacey. No entanto, para “compensar” mudou a história do mais importante vilão dos comics: Duende Verde (o mesmo acontece com o filme Homem de Ferro III e o vilão Mandarim) Mudar o nome seria mau, mudar a história seria mau, mudar a identidade do Duende Verde foi horrível. Ao invés de Norman Osbourne, o diretor da Oscorp Corporation, ser o original Duende Verde, este é apresentado como um homem doente, às portas da morte que acaba por morrer durante o segundo filme. Isso faz de Harry Osbourne, o seu filho, o primeiro Duende Verde da saga. Falando desse segundo filme, os outros dois vilões presentes, Rino e Electro, também têm enormes erros na sua construção. Desde a etnia do Electro, ao mecanismo robótico do Rino (a substituir a sua armadura de genética avançada), parece que nada encaixa nas verdadeiras personagens e que estas foram completamente desrespeitadas.

Chega de massacrar os filmes e vamos a explicações.

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Neste momento devem estar a perguntar-se “Por que é que não se faz filmes iguais aos comics?” Existe uma enorme diferença entre os apreciadores de filmes e os apreciadores de comics: o número. O filme Os Vingadores estreou a 4 de maio de 2012 nos Estados Unidos da América e produziu 623 milhões de dólares na bilheteira. Foram vendidos aproximadamente 41.5 milhões de bilhetes (perto de 15 dólares cada)! No entanto, o comic de edição mensal “Avengers” não teve o mesmo sucesso: o Avengers #24 o comic da saga mais vendido nos EUA, em 2013, vendeu aproximadamente 127 mil e 500 cópias com 16 edições diferentes, no entanto isto foi um caso raro porque os números seguintes diminuíram as vendas,: o #25, de janeiro, vendeu apenas 65 mil cópias, o número 26, de fevereiro, vendeu 60 mil cópias, e o número de 27 vendeu 54 mil cópias. Um filme não pode ser produzido apenas para 50 mil ou 130 mil pessoas, tem que ser produzido para milhões de pessoas. Por isso tem que seguir determinadas convenções que agradam à generalidade das pessoas que frequentam o cinema, aliás não só a essas, mas a todas as que veem cinema, seja qual for a plataforma.

Chamar pessoas para o cinema passa por muito mais do que apenas uma história conhecida e uma personagem, é preciso nomes: atores, realizadores, nomes sonantes no mundo do cinema. É verdade que reunir pessoas famosas e talentosas para a criação de filmes dá-lhes um certo nível de qualidade, mas reforço que o meu argumento não é que os filmes da Marvel Studios têm pouca qualidade, porque de facto não o têm, mas sim que estes são criados para pessoas que não seguem os outros produtos da editora. Um filme com a história perfeita de Iron Man e a introdução do seu vilão Mandarim venderia com certeza e satisfaria os fãs de comics, mas um filme com o Robert Downey Jr. no poster e um mandarim não bem explicado representado pelo Ben Kingsley no trailer) vende muito mais e satisfaz muito mais gente.

Resumindo, o que se conclui é simples: os fãs de comics terão que esperar até ao dia em que o seu número seja rentável para que seja feito um filme a pensar neles, pois até lá os filmes da Marvel Studios continuarão a ser blockbusters, filmes de bilheteira, que irão ignorar e até mesmo desrespeitar as criações que estes fãs tanto adoram e seguem.


 
 
 

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