O quarto de Jack – Uma alegoria da caverna contemporânea

“O quarto” é um filme arrebatador que conta a história de um rapaz de 5 anos, Jack (Jacob Tremblay), e da sua mãe (Brie Larson) que vivem em cativeiro. Jack nunca viu o mundo real; já nasceu no seu mundo a que chama carinhosamente “o quarto”, um espaço «grande», onde tem os seus amigos como a «cadeira nº1» e a «cadeira nº2», o «roupeiro», a «mesa» e a «cama». Durante 5 anos a mãe escondeu-lhe que existia um mundo fora das paredes do quarto, um céu muito maior do que o que viam da claraboia e que os cães e a relva eram, de facto, coisas reais e palpáveis. Essa ilusão em que Jack vive, semelhante à da alegoria da caverna, termina quando Joy concebe um plano para os tirar do cativeiro.

O facto do filme ser narrado pela voz infantil de Jack traduz-se num impacto mais intenso sobre o espectador. A partir do momento em que Jack sai do quarto consegue-se perceber como aquele espaço minúsculo e o isolamento social o moldaram. Talvez tenha sido essa a parte mais perturbadora e mágica do filme: a visão de uma criança que vê pela primeira vez o mundo e tenta descrevê-lo através do que conhece. No quarto pouco se passava de novo enquanto que, no mundo, haviam sempre coisas a acontecer, pessoas a falar, movimento, tanta coisa para onde olhar. De facto, os cães existiam e era até possível sentir a textura das folhas e o sol fazia os olhos do pequeno Jack arderem.

Por outro lado, para a mãe de Jack, o mundo não lhe traz o consolo que esta esperava. Pelo contrário, quando sai do cativeiro, Joy entra num estado de depressão profunda que culmina numa tentativa de suicídio. Existe frustração em Joy a quem a adolescência foi roubada e por quem o mundo não parou na sua ausência. As pessoas mudaram e a vida continuou.

Melhor atuação de drama e melhor protagonista para Brie Larson, filme do ano e melhor argumentista são alguns dos prémios que o filme já arrecadou, estando ainda nomeado para muitos mais.