Será este o fim dos filmes de terror?
- Tiago Almeida
- 2 de mar. de 2016
- 3 min de leitura

Todo o produto tem o seu período de vida, toda a arte tem a sua época de duração e todos os impérios nascem e caem. Tal como toda e qualquer outra moda, os filmes de terror também tiveram o seu nascimento, o seu auge e agora a sua queda. Poderá nunca vir a existir a sua extinção, mas o seu período como uma das mais respeitáveis vertentes de cinema está claramente em “check”.
Entenda-se que sou um enorme amante de filmes de terror e não uso essa expressão de ânimo leve, pois tenho a perfeita noção de que os filmes de terror perfazem perto de três quartos do total de filmes que vi até hoje. Devido precisamente a esse sentimento é que considero imperativo questionar: já não se fazem bons filmes de terror? Na realidade fazem-se, mas a falta de realizadores respeitáveis a nível não só do género mas também de todo o cinema, e o número de completos fracassos cinematográficos que fazem acompanhar a quantidade reduzida de ditas “obras-primas”, impossibilitam o contínuo desenvolvimento do género. As razões são mais óbvias e talvez mais simples do que pode parecer.
Talvez o mais importante de todos os motivos para a queda do dito” império de terror” que existiu do fim dos anos 30 ao fim dos anos 70, foi a perda da noção do que é um bom filme de terror. Um filme de terror é suposto ser um filme que baseia a sua ação e ambiente em situações terroríficas e não algo que serve única e exclusivamente para assustar. Por isso filmes como O Fantasma da Ópera e O Corcunda de Notre Dame são originalmente filmes de terror, visto que na data em que estes foram criados, 1925 e 1939 respetivamente, a sociedade atingida por estes filmes não estava psicologicamente preparada para a situação e contexto dos mesmos. No entanto, como veio a ser comprovado pelos remakes e reboots futuros, como a versão de O Fantasma da Ópera de 2004 ou de O Corcunda de Notre Dame de 1996, estas situações são muito mais banais para a sociedade pós-anos 90, o que levou à realização do O Fantasma como apenas a transição direta do musical de Andrew Loyd Webber para o cinema e não da história romântica/terror escrita em prosa por Gaston Leroux. O mesmo aconteceu com a adaptação da obra de Victor Hugo como algo não tão drástico, para permitir à Disney criar um filme de animação baseado nessa mesma história.
Cada vez é mais frequente que um filme de terror contenha variados jumpscares, que se passe à meia-luz e num local fechado, mas que em termos de guião, em termos de imagem e principalmente em termos de originalidade seja “apenas mais 1”. Se considerarmos a possibilidade de existir um filme no qual a premissa mais básica é que um tornado transporta tubarões até terra e que de alguma forma estes mantêm-se vivos enquanto circundam o tornado, será fácil perguntar quem teve a ideia de juntar Tubarão de 1975 e o Tornado de 1996, mas ao passo que ambos estes receberam nomeações para prémios da Academia, no caso do Tubarão tendo alcançado a vitória em 3 das nomeações, este “novo” filme Sharknado acabou por ser ridicularizado pela generalidade, para evitar a referência à totalidade, dos críticos. Se referirmos então que a equipa de produção e realização deste filme conseguiu ainda produzir duas sequelas, afundamos por completo a ideia que o guião é importante para a comunidade de filmes de terror atual.
No entanto, não podemos deixar ilesos os franchises clássicos como o próprio Tubarão. A sobre-exploração destes filmes contribuiu e muito para a queda da qualidade. Não é fácil lembrar de todos os Halloween ou todos os O Pesadelo em Elm Street (e, num caso mais atual, todos os Saw). A ideia de escrever continuamente em torno de um antagonista obriga a que ao longo do tempo a qualidade seja posta em causa. É então fácil de entender o porquê dos realizadores originais com o John Carpenter (Halloween) e Wes Craven (O Pesadelo em Elm Street), decidirem afastar-se da produção das sequelas quando estas chegam a um ponto de qualidade que estes não querem que seja associada aos seus nomes.
A falta de qualidade, a reciclagem constante de conceitos e de histórias, mas principalmente a sobre-exploração de filmes de terror leva à conclusão que o destino do género de terror avizinha-se negro, com a alta probabilidade de que este género perca o respeito perante a Academia, e que, uma vez mais, seja desvalorizado pela sua tendência sensacionalista de querer assustar primeiro e só depois contar uma história, quando a base do cinema é contar uma história através de imagens em movimento.
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