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"Narcos" - a água que mata a sede

  • João Croca
  • 4 de mar. de 2016
  • 3 min de leitura

Fonte: Netflix

Quando quatro realizadores sul-americanos (Guillermo Navarro, Andrés Baiz, José Padilha e Fernando Coimbra) se unem para contar a história do maior traficante de cocaína que o mundo já conheceu, ficamos imediatamente com a impressão de que o assunto é sério e até pessoal; existe esta intenção de provocar os fantasmas do passado, alguns deles ainda presentes nas sociedades de alguns países sul-americanos. Na sua generalidade, Narcos é, para além do relato das repercussões das ações de Pablo Escobar entre as décadas de 70 e 80 através da perspetiva do agente da Drug Enforcement Administration Steve Murphy (interpretado pelo norte-americano Boyd Holbrook), uma amostra da inocência e do romance que o mundo do crime alberga.

A série criada por Carlo Bernard, Chris Bancato e Doug Miro expõe, através de um narrador participante (personificado por Steve), os momentos-chave do fim do reinado de Escobar, tais como os mais sagrados detalhes da vida do traficante, que são imprescindíveis no argumento, pois se não estivessem incluídos no guião a série não teria o peso que a capacitou concorrer aos Globos de Ouro deste ano. Isto não é somente um relato de um criminoso, mas também um retrato cultural de uma geração marcada por um vasto ciclo de metamorfoses.

O próprio genérico tem como guia o tema musical “Tuyo”, do cantor brasileiro Rodrigo Amarante, que através de uma letra apaixonada e de um sotaque bem treinado avisa o espectador sobre o que ai vem- uma história de vícios, de carência de remédios santos para os pecados da carne, muita raiva e muita intriga. O uso do narrador participante, caraterística muito presente nos trabalhos do brasileiro José Padilha (Tropa de Elite, 2007; Tropa de Elite 2, 2010), ajuda o espectador a prestar atenção aos detalhes do envolvimento de todas as personagens, construindo assim um fio condutor fácil de seguir e que estabelece um elo de ligação a todos os bastidores da história.

Fonte: Netflix

Viremos agora as nossas atenções para o protagonista, onde vemos Wagner Moura a jogar em casa; já não é a primeira vez que o ator interpreta papéis dentro deste género de composição dramática. Ao vestir a pele de Escobar, mostra-nos que, no ambiente do traficante, não existe nenhuma perceção de crueldade; todos os meios são legítimos para atingir um fim e é indiferente que haja sangue e explosões pelo meio. A caraterização do personagem peca ligeiramente pela pronúncia brasileira em algumas palavras do vocabulário espanhol, fora isso parece estar tudo dentro dos eixos. A sua postura calma e provocadora é outra caraterística distinta do personagem; o mundo é um jogo de xadrez e ele é o rei, tudo está dentro do seu controlo e mesmo nos momentos de maior tensão essa tranquilidade é inquietante.

Para quem se queixa da predominância daquelas séries onde parece que têm o mesmo guião e onde a ação é previsível, Narcos é um belo regalo e uma boa desculpa para agarrarem na manta, ligarem a televisão ou portátil e deitarem-se no sofá a tarde toda. Por enquanto só existe uma temporada, o que vos vai saber a pouco. Os próprios agentes Murphy e Peña, que tiveram um papel determinante na caça a este homem, foram consultores da série, um dado que fortalece a ainda mais o apetite de saber o resto desta história. Que a segunda temporada venha depressa!

 
 
 

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